terça-feira, 30 de junho de 2015

Violência e política

Tem crescido no Brasil a preferência pela violência como forma de dirimir conflitos. Em uma democracia com fortes traços oligárquicos, como o caso do Brasil, isso não espanta.
A relação entre política e violência não é simples de ser refletida ou racionalizada. O Estado, organização política por definição, tem o monopólio da violência e, por conseguinte, podemos imaginar que a violência seja, então, elemento primordial da política. Ledo engano.
O monopólio do uso legítimo da violência pelo Estado só é justificado se for para conter a violência no plano da sociedade. Não se trata, aqui, da ideia de combater a violência com o uso da violência. Mas de afirmar que a violência não é uma forma legítima de exercício do poder. O caráter legítimo dessa violência só existe quando justificado publicamente, à luz de princípios inclusivos da esfera pública, de forma a conter qualquer ritualização da agressividade. Dessa forma, a política antecede a violência como forma de dirimir os conflitos sociais. Quando a violência se torna uma prática corriqueira para resolver conflitos, é sinal de que a política é uma alternativa menos preferida pelos agentes. Negar a política significa tornar a violência regra do jogo, com total imprevisibilidade para os agentes.
No caso brasileiro, tem crescido a preferência pela violência como forma de dirimir conflitos. A truculência da polícia cria um clima de insegurança. Em uma democracia com fortes traços oligárquicos, como o caso do Brasil, isso não espanta. Somos avessos às ruas, optando pelo privatismo que marca a trajetória brasileira desde a independência. Nesse caso, a opção preferencial é deitar porrete no lombo de “arruaceiros marginais”. Num contexto de fraco desempenho das políticas públicas e num clima de fortes injustiças sociais, ir às ruas colocou a nu o espectro que todos, de alguma forma, negavam a respeito da democracia brasileira. O seu caráter oligárquico ainda sobrevive e impede avanços que sejam mais consideráveis nas condições de bem-estar. Some-se a isso uma institucionalização da participação política que promove formas de exclusão e temos um caldo favorável para que as ruas explodam.
A morte do cinegrafista Santiago Andrade, nesse sentido, não é apenas um ato isolado, que possa ser justificado pela truculência da polícia ou pelos excessos cometidos por supostos baderneiros de movimentos sociais. Junto a outras tantas mortes, significa um sinal de alerta. Essa morte, assim como tantas outras que nos avizinham a continuar essa espiral de violência, deve servir para colocar o pé no freio. Não para encerrar manifestações. Porque elas são necessárias. Mas para reacender a opção pela política. O efeito disso tudo tem sido uma celebração, à direita e à esquerda, de enorme violência e truculência, que refletem exatamente o que se pretende combater. Aí caímos numa situação esquizofrênica, sem norte. A conjuntura fez os ventos mudarem. É bom que nossas lideranças percebam isso.

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